7 de agosto de 2010

EUA derrotados
no Iraque

| Isaac Bigio*/Especial para BR Press |

(Londres, BR Press) - Obama anunciou que no último dia deste mês sairão do Iraque todas as “tropas de combate” dos EUA. Somente deverá permanecer um contingente de 50 mil soldados, cujo trabalho será apoiar e treinar efetivos iraquianos (o que, apesar do prometido, implica continuar mantendo forças de ocupação, que também podem entrar ou cair em ação bélica), até o final de 2011. 
Isto significa que a maior potência do mundo terá permanecido por quase nove anos no Iraque, o dobro do que durou sua participação na II Guerra Mundial. Enquanto que, em 1945, Washington derrotou Berlim e depois disso se converteu na superpotência do bloco capitalista, em 2010-2011 os EUA se retiram do Iraque sem mostrar vitória.

Custo-benefício

Num conflito que custou mais de US$ 3 trilhões, os EUA não atingiram seu objetivo de transformar-se na grande polícia global, assegurando a imposição de regimes liberais onde quer que seja.
 

Pelo contrário, o desencanto com a Guerra do Iraque conduziu aos maiores protestos pró-paz desde o Vietnã, à queda de todos os governantes ocidentais que iniciaram tal invasão, ao crescimento da oposição anti-imperialista, ao fim da doutrina das intervenções militares preventivas pró-democracia e à passagem de um mundo unipolar para um outro, multipolar.

Efeito extremista

Capitalizando o fracasso da ocupação norte-americana no Iraque, duas organizações militares (que Washington chamou de terroristas) se tornaram mais poderosas. O Hamas ganhou eleitoralmente o governo palestino e o Hizbollah se consolidou como o principal partido no Líbano.
 

O Irã tirou proveito do conflito para se fortalecer e dotar-se de usinas nucleares, enquanto que a Coréia do Norte iniciou suas primeiras explosões atômicas. Ao distrair-se no Iraque, os EUA permitiram que os talibãs e a Al Qaeda se revitalizassem no Afeganistão até o ponto de chegar a uma negociação ou a um co-governo com eles.
 

No Egito e na Arábia Saudita os processos de democratização hoje, em vez de inclinar a balança para o lado do liberalismo, potencializariam os nacionalistas islâmicos.

Crise

Os EUA anunciaram sua retirada do Iraque no final de julho, o mês de maior violência que este pais já sofreu nos últimos dois anos, quando ali não há um claro governo emergido das eleições legislativas de cinco meses atrás e em circunstâncias nas quais as forças pró-Al Qaeda e pró-Irã têm crescido, havendo a possibilidade de que Bagdá tenha uma ditadura xiita.

Ao se embrenharem no Iraque, os EUA descuidaram da América Latina, na qual o crescente descontentamento com esta guerra permitiu que o chavismo se radicalizasse, e que distintas variantes da esquerda fossem avançando e ganhando governos na região.
(*) Analista de política internacional, Isaac Bigio lecionou na London School of Economics e assina coluna no jornal peruano Diario Correo. Tradução: Angélica Resende/BR Press.

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