25 de dezembro de 2011

ANGOLA DEMOCRÁTICA


“Somos Independentes, Seremos Socialistas”,

era uma frase muito em voga no dealbar da independência há trinta e seis anos. Somos independentes, mas não seremos socialistas, pelo andar da carruagem.

Sou um franco leitor do blogue "Pensar e Falar Angola"  do meu amigo Carranca. Sou porque é lá que encontro uma síntese dos principais acontecimentos ocorridos na minha terra, apresentados e divulgados com acentuada isenção. Mesmo quando lá me deparo com a divulgação de notícias que não fazem a apologia do que eu penso - por isso anteriormente me referi à isenção -, eu fico a par do que acontece ou, pelo menos, é dado como certo.
Adiante: Hoje, depois de ter o papo atestado com uma caldeirada de cabrito que Dona Helena  cozinhou com os seus segredos "caldeirescos" ,  vim espreitar a actualidade que desprezara desde sábado. Ao abrir o meu gmail que o pc do Carranca me envia pontualmente, topei um texto assinado por FERNANDO PEREIRA , autor que aprecio pelo timbre de uma assinatura de personalidade que olha nos olhos quando fala e fiquei encurralado na leitura do texto que aqui reproduzo integralmente. É um documento que muito bem poderia servir para respigar pormenores históricos - embora opinativos -,  e, também, merecedor de divulgação maior, principalmente junto daqueles que ainda levantam a voz contra o actual governo angolano, um governo que em pouco mais de trinta anos de independência fez mais, mas muito mais, do que os portugueses fizeram em mais de 500 anos de ocupação colonial. 
Seria esta, talvez, uma oportunidade excelente para eu, que vivi no Huambo -Huambo: Cidade, Vida! -, doze anos após a independência, para contar muitas das páginas que serviram para uma verdadeira identificação com a essência e a realidade dos objetivos  já na ocasião definidos na linha da democracia que, volvidos quase 50 anos por mim vividos sobre aquelas datas, se vislumbravam. E esta minha afirmação não carece do recurso a binóculos para se ter a certeza de que a verdadeira democracia em Angola está à vista aberta. Aqui o Fernando Pereira já escreveu e por acréscimo digo eu:  basta recordar o quanto o fundador da Nação Angolana, o Dr. Agostinho Neto disse como orientações,   antes de ir ao encontro da morte na União Soviética, no périplo que fez pelo País.
E AGORA MEUS AMIGOS, LEIAM, ATENTEM E SE FOR CASO DISSO, COMENTEM. 
As verdades - provadas - devem ser ditas e divulgadas 
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 Fernando Pereira
“Somos Independentes, Seremos Socialistas”, era uma frase muito em voga no dealbar da independência há trinta e seis anos. Somos independentes, mas não seremos socialistas, pelo andar da carruagem. A história que vou contar passou-se comigo recentemente num bar numa cidade portuguesa, e reflecte um pouco a selectividade com que o desfiar da memória está cheia de perversidade junto de gente que não viveu o antes de Novembro de 1975. O bar estava “composto” e um tipo preto com a bandeira de Angola ao peito e ia provocando as pessoas sem que ninguém lhe dissesse o que quer que fosse, porque vem sempre da pior forma o estigma do racismo de sinal contrário: Não dizer nada porque “é de cor” e é chato! Eu a certa altura levantei-me e disse-lhe: “ Acaba mas é com a palhaçada, que ainda por cima tens aí uma bandeira que merece respeito, e que custou o sacrifício de muita gente”; o tipo olhou-me e diz-me: “Oh Kota, e que tens tu a ver com isso, também te sacrificaste?” Eu, tomando em parte dores de parto alheio disse-lhe que “por acaso até me sacrifiquei para te dar um País”, e ele acto contínuo respondeu-me: “ Boa merda fizeste”! Confesso que esta conversa deixou-me siderado, porque era um rapaz com cerca de trinta anos, e tudo o que podia saber para comparar só porque alguém lhe contou, de forma enviesada. Pouco importa para o caso, porque digo sem qualquer rebuço que o angolano vive indiscutivelmente melhor hoje que vivia no tempo colonial. Alguns dos que me lêem vão dizer que ensandeci definitivamente tal a forma peremptória como reafirmo que a Angola de hoje é para o angolano um espaço de vida e de liberdade bem melhor que no “tempo do colono”. Hão-de vir os muitos que se foram esquecendo que já no período final do tempo colonial em Luanda havia um documento chamado cartão de residência, passado nas esquadras da polícia dos bairros e obrigatório que qualquer pessoa o trouxesse consigo, assim como um documento de trabalho que era aviltante para o cidadão, que no caso de não o possuir ia bater com os costados na cadeia, até que o patrão o fosse libertar, ou dar-lhe a carta de alforria. Claro que não vou recuar aos tempos da vigência do Acto Colonial, nem a tudo que foi acabando no fim dos anos cinquenta por imposições de revoltas, que tiveram visibilidade internacional e obrigaram as autoridades portuguesas a fazer concessões, muitas das quais apenas no campo da retórica e da cosmética. Não vou falar do tempo colonial, porque na realidade já passou, e ainda bem. Os angolanos depois de tantos anos a andarem à “porra e à massa”uns contra os outros acabaram por começar a construir uma nação, num quadro de diversidade, num estado com instituições e acima de tudo a encararem o futuro com redobrada confiança. Não me estou a violentar por estar a escrever este quase panegírico à Republica de Angola, porque o que vamos assistindo um pouco por todo o País é um trabalho de recuperação de infra-estruturas excelente, a dotação de meios indispensáveis à melhoria das condições sociais da população, nomeadamente nos campos da saúde e da educação. Já aqui tenho discordado da forma como muitas vezes tem sido feitas determinadas estruturas, e não concordo com as decisões que por vezes são tomadas em relação a algumas questões, mas não se pode deixar de reconhecer que tem havido empenho para que muito tenha emergido neste início de século no País. Pois, mas a corrupção, o enriquecimento desmesurado de gente ligada a determinados círculos, a opacidade das decisões em estruturas governativas e empresas estatais, a pouca eficiência da justiça ou a falta de liberdade de imprensa, também merecem profunda reflexão e fazem parte da evolução da democracia, da integração de jovens quadros licenciados em Angola ou no exterior e uma cada vez maior participação em movimentos cívicos de defesa de valores que já nada tem a ver com o longínquo 11 de Novembro de 1975. A maior parte da população de Angola já não viveu o passado colonial, e se mostra alguma nostalgia é porque quem conta teve que fazer um exercício selectivo de memória para objectivamente transformar esse período numa realidade edénica, algo que nunca foi. Mas também é com essa realidade de gente que em 11 de Novembro de 1975 não tinha nascido ou estaria na infância ou adolescência, que se exige um futuro diferente para o País, e também urge que acabem alguns estigmas que pontualmente são utilizados de forma oportunista. Gosto muito da Angola independente, e acima de tudo entusiasma-me ver o muito que se faz e que tem pouca visibilidade no exterior. É indispensável que a afirmação ideológica regresse ao País de forma a libertar as novas gerações do fantasma de um passado que pouco tinha a relevar.
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