4 de setembro de 2011

Afrobasket'2011

Madagáscar exige ponderação
análise profunda e reflexão
Este artigo foi repassado da edição de 2-Setembro do semanário angolano "O PAÍS" cuja autoria é de TEIXEIRA CÂNDIDO, onde reflete com frieza e objetividade a situação da seleção de basquetebol de Angola, recentemente deserdada do titulo africano da modalidade

A análise da derrota de Angola no Afrobasket'2011, cujas cortinas fecharam esta semana em Madagáscar, só faz sentido hoje se for para discutir o futuro. De outro modo, é gastar latim e tinta. As derrotas são boas oportunidades para se reflectir, ao contrário das vitórias, que são hipnotizadoras. A responsabilidade por essa derrota, em Madagáscar, tem um rosto: Gustavo da Conceição, presidente da Federação Angolana de Basquetebol (FAB), por ter ido buscar um treinador sem conhecimento do basquetebol nacional, nem do valor dos jogadores que excluiu da Selecção Nacional. Quanto à isso não há discussão. E a verticalidade diz que a direcção da FAB devia assumir a responsabilidade e não fugir dela.
Mas o abalo que a hegemonia de Angola sofre é da responsabilidade dos clubes, em particular dos grandes que, em finais da década 90, abandonaram a política de formação e passaram a contratar jogadores estrangeiros, alguns dos quais sem qualidade. O 1º de Agosto, em primeira instância, foi o responsável pela inflação do mercado do basquetebol. Deixou a formação para ex-jogadores, aos quais desejava acomodar depois de terminarem as respectivas carreiras. Victorino Cunha enquanto treinador principal do 1º de Agosto também coordenava a formação e assim se conseguiu formar a nata de atletas que garantiram ao país a hegemonia no basquetebol africano.
Desde que Vitorino Cunha deixou o 1º de Agosto, nos finais de 90, nunca mais a equipa conseguiu formar quatro atletas de qualidade, sem desprimor. Olímpio Cipriano e Felizardo Ambrósio apenas se projectaram na equipa militar, pois se iniciaram no Sporting Clube de Luanda e no Atlético Sport Aviação (ASA), respectivamente.
O Petro de Luanda, cuja filosofia era semelhante a do 1º de Agosto, também copiou o mau exemplo, largando a formação para os ex-atletas.
Ou seja, depois da morte de Wladimiro Romero acabou-se o projecto de formação.
Outras equipas, como a Nocal – onde se iniciou Miguel Lutonda – fecharam as suas portas por dificuldades financeiras. Essa política imediatista tornou as equipas em “importadoras” e não “exportadores” como acontecia antigamente.
Em face disso, a Selecção Nacional deixou de ter competitividade e passou a depender de três ou quatro atletas, alguns deles em idade já avançadas, casos de Carlos Almeida e Miguel Lutonda.
Em situação normal fazia-se a renovação da Selecção Nacional sem qualquer receio de se perder a hegemonia, mas hoje já não há garantias de que no próximo Afrobasket Angola consiga recuperar o título e impor um longo período de jejum as outras selecções, tal como aconteceu em 1997. Angola perdeu o título para o Senegal, na edição seguinte recuperou e conservou a coroa por 12 nos. Ou seja, atletas da qualidade de Benjamin Avô, ex-base da Selecção Nacional e do Petro de Luanda, deixaram de jogar depois de 1997 mas a equipa nacional não se ressentiu porque Miguel Lutonda, Walter Costa, Swing e outros seguraram a equipa na posição um.
O cenário hoje é negro. A ausência de Miguel Lutonda e Carlos Almeida deixa a equipa nacional com um único base (Armando Costa), pois Milton Barros, Domingos Bonifácio e Paulo Santana, atletas do Libolo e do Petro de Luanda, não têm a mesma qualidade.
O mesmo se coloca em relação aos extremos e lançadores de triplos.
Quase todos dizem aliás que Angola perdeu este Afrobasket porque não levou os únicos lançadores que possuía (Olímpio Cipriano, Miguel Lutonda e Carlos Almeida).
A Selecção tornou-se igualmente dependente de dois ou três extremos, nomeadamente Olímpio Cipriano, Carlos Morais e Carlos Almeida. Sem eles Angola é capaz de não se reconhecer, como aconteceu em Madagáscar. Passou a depender apenas de Carlos Morais, segundo melhor cestinha da competição, com uma média de 17 pontos.
Ressentiu-se da ausência de Olímpio Cipriano, com uma média de 24 pontos por jogo, e Carlos Almeida, tido como um dos melhores defensores do basquetebol nacional.
Além de terem abandonado a política de colocar nos escalões de formação treinadores experimentados, as grandes equipas passaram a contratar treinadores estrangeiros (maioritariamente portugueses), que trouxeram cada um a sua filosofia de jogo, desvirtuando deste modo o modelo do basquetebol nacional.
É, sobretudo, essa nova política dos grandes clubes nacionais que ameaça a hegemonia de Angola mais do que o crescimento (que é notório) das outras selecções como a Tunísia, Camarões, Côte d´Ivoire ou Republica Centro Africana. Elas têm o seu mérito, pois também evoluíram, mas a continuidade da filosofia de formação adoptada há mais de 30 anos ainda pode oferecer ao país muitos títulos. De outro modo, é o princípio do fim…

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